História

Texto levemente adaptado da Revista Revide, Edição Especial A volta do Leão, de 1993.

Em 86 anos, a história do Comercial Futebol Clube tornou-se um caso de tradição e amor à camisa branca e preta.

Em 1991, quando os primeiros clubes de futebol começavam a se espalhar pelo país, um grupo de comerciantes de Ribeirão Preto, conscientes de que juntos poderiam formar também uma equipe competitiva, se reuniu numa pequena loja do centro da cidade. Desse encontro nasceu o Comercial Futebol Clube. Estavam presentes os comerciantes Antônio Maneiro, Guilherme Nunes, Francisco Arantes, Adauto de Almeida, Thimóteo Grota, Alvino Grota, Argemiro de Oliveira, Djalma Macedo e Antídio de Almeida, primeiro presidente do clube. Era dia 10 de outubro. O Leão, como ficou conhecido mais tarde, saía da toca para se transformar num time de grande tradição.

O primeiro estádio foi construído no alto da cidade entre as ruas Tirbiriça e Visconde de Inhaúma. Dentro das quatro linhas, o time começou a registrar sua história de vitórias, amor à camisa, alegrias e lágrimas. A equipe começava a ganhar as manchetes dos jornais da capital. Nessa época, despontavam jogadores como os irmãos Grota, Belmácio Godinho, irmãos Franco e Geraldo Guião entre tantos outros. O Leão mostrava sua força até mesmo contra os grandes times do país e do exterior, como no empate com a seleção Argentina em um a um, ou na vitória sobre o Peñarol, em Montevidéu, por dois a zero, ambas as partidas na década de 20. Ainda nessa época um feito memorável. Numa excursão invicta pelo Norte do País, disputou sete partidas, venceu seis e empatou uma. Daí originou-se o apelido de Leão do Norte.

Em 1935, o clube paralisou o Departamento Profissional. O Leão saiu de campo. A diretoria havia comprado os irmãos Bertoni, uruguaios, que ganhavam altos salários para a época. Os outros jogadores se insurgiram. Queriam ganhar o mesmo. As finanças foram se deteriorando. A situação agravou-se quando os sócios de maiores posses, aqueles que achavam que o futebol deveria ser praticado por amor à camisa, se afastaram. Tendo em vista que o futebol poderia levar o clube à ruína, e não sobraria mais nada de um patrimônio valioso, comercialinos como Camilo de Mattos e Antônio Uchôa Filho resolveram intervir. Convocaram uma assembléia e o Comercial foi anexado à Sociedade Recreativa que absorveu a dívida de 40 contos. Isso em 1937.

Foram quase 20 anos de paralisação. Porém, a tradição foi recuperada. Em 1954, um grupo de antigos e fiéis comercialinos se reuniu para estudar o ressurgimento do Leão. Entre eles, destaca-se a presença de cidadãos como Domingos João Batista Spinelli, Oscar Moura Lacerda, José Monteiro, Áureo Alves Ferreira, Geraldo Leite de Castro, Pedro Paneli, José Grota, Belmácio Godinho, Jamil Jorge, Agenor Saheb, Antídio de Almeida, Lourenço Gueringueli, Álvaro de Oliveira, Monteiro de Barros, Prisco da Cruz, Arlindo Vallada, Jaime de Oliveira Vallada, Romero Barbosa, Baudilio Biagi, Plínio de Castro Prado e Francisco de Palma Travassos, doador do terreno onde foi construído o estádio que leva seu nome. Do esforço desses homens, no dia 8 de abril daquele ano, o Comercial era novamente organizado, e em 7 de outubro, numa fusão com o Paineiras Futebol Clube, já filiado a Federação Paulista de Futebol, o Leão estava pronto para disputar o campeonato da segunda divisão de profissionais daquele ano, mandando os primeiros jogos no estádio Costa Coelho, campo do Mogiana.

Logo no primeiro ano que voltou a jogar profissionalmente, o Comercial poderia ter conquistado uma vaga na primeira divisão. Com uma campanha invejável, chegou ás finais contra o time do Taubaté. O placar foi zero a zero, mas o ábitro Luiz Batista Laurito anulou um gol legítimo de Ademar, confirmado pelo bandeira, e também não deu um pênalti para o Leão. O Taubaté subiu. O Comercial ficou com o vice-campeonato e conhecido como "Campeão sem Coroa". O título veio em 1959, contra o Corinthians de Presidente Prudente. Foram três partidas, nas quais o Comercial perdeu a primeira por um a zero, ganhou a segunda pelo mesmo placar, e lavou a alma da torcida no jogo decisivo. O Leão goleou por quatro a zero. Carlos César com dois gols, Ademar e Lécio foram os artilheiros daquele 21 de abril de 1959. O Comercial Futebol Clube de Ribeirão Preto era o novo caçula da Divisão Especial. Uma eufórica torcida promoveu um grande carnaval na cidade para comemorar a conquista. A equipe jogou com Santão, Toninho, Valdemar, Parracho e Candão, Valtinho, Lécio, Ademar, Otávio, Almeida e Carlos César.

Era uma época em que o Comercial tinha grandes craques, como o próprio Carlos César, e os potentes chutes de esquerda, que lhe valeram o apelido de "esquerdinha de ouro". Havia também o zagueiro Piter, um jogador de físico privilegiado, que se consagrou como um dos melhores marcadores de Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos.

Na memória dos torcedores ainda estão os gols de Paulo Bim, o maior artilheiro do Comercial, e as jogadas de outros talentos como Ferreira, Ademar, Hélio Giglioli, Antoninho e mais recentemente Edval, Luís Alberto, Paulinho Pereira, Tim, Pedro Omar e o zagueiro Ney. Além disso o clube revelou craques como o goleiro Émersom Leão, o ponta Mauricinho e Guina. Eram tempos de grande rivalidade, do Come-Fogo, o maior clássico do interior do Estado. O primeiro Come-Fogo oficial foi realizado no dia 19 de dezembro de 1954 e o resultado foi um a um.

Em 1986, para desespero dos comercialinos, o time caiu para a Divisão Intermediária do Campeonato Paulista. Tudo aconteceu depois de uma partida entre América e XV de Jaú, onde as duas equipes dependiam de um simples empate para permanecerem no grupo de elite do futebol de São Paulo. Não houve futebol em campo, mas uma marmelada para derrubar o Leão. O time perdeu a disputa também nos tribunais. O clube já havia passado pela mesma situação em 1967. Num confronto com a Portuguesa de Desportos, no Palma Travassos, aconteceram alguns incidentes. O Leão teve um gol anulado e alguns torcedores invadiram o gramado. A partida foi anulada. No jogo seguinte, o Comercial perdeu por um a zero, mas depois de uma longa briga nos tribunais, ganhou no CND - Conselho Nacional de Desportos - o direito de continuar na Primeira Divisão. A Portuguesa havia entrado em campo com um jogador que não estava inscrito.

Com a queda de 1986, o time mergulhou numa profunda crise financeira. Além de alguns equívocos administrativos, jogando numa divisão inferior, as rendas eram pequenas e não dava para manter um elenco capaz de levar o Comercial de volta a Divisão Especial. Foram sete anos de sofrimento para a apaixonada torcida. A situação financeira do clube começou a se equilibrar em 1991 com a posse do empresário Miguel Said Neto, que implantou uma nova dinâmica administrativa, reorganizando o clube. Com a casa em ordem o Comercial começou a driblar os adversários dentro de campo. Armou um time competitivo em 1993, numa demonstração de que o futuro ainda reservava emoções para o torcedor do Leão. Neste mesmo ano, conseguiu o acesso para a Série A do Campeonato Paulista.

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